segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Comidinha

O André (ou melhor... a mulher dele) tentou-nos mostrar as virtudes da comida realmente angolana.
Foi aqui que fiquei a conhecer o funge de bombó (já conhecia o de milho) - para quem não sabe o funge é uma espécie de massa de farinha cozida.
Fiquei a conhecer também a quizaca (folhas do pé de mandioca moídas), a rama de batata doce, e a cabidela tradicional (de “galinha abatida”).

Por incrível que pareça, esta comida é mesmo muito difícil de conseguir fora de casa.
Nos restaurante está tudo mais "aportuguesado".

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Aniversário

Ainda não tinha contado, mas no dia 13 o André fez anos.
O André tem sido o meu motorista por terras angolanas.
Como bom angolano, arranja sempre família em todos os lugares onde temos ficado.
No Huambo foi em casa de um tio.
Foi aí que comemorámos os seus 33 anos, com a família toda.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Silva Porto

A propósito do post anterior: Antigamente, o Kuito chamava-se Silva Porto.
Isto deve-se às aventuras de outro portuense em África
António Francisco Ferreira da Silva acrescentou ao seu nome o apelido Porto, por ter sido a cidade onde nasceu (qualquer dia faço isso).
Muitos anos antes dos exploradores do post anterior, também Silva Porto tentou atravessar África de um lado ao outro.
Apesar de não o conseguir, a ele se ficou a dever um melhor conhecimento desta zona no meio de Angola.
Foi o fundador da povoação de Belmonte, em 1847, depois chamada Silva Porto e actual Kuito, capital da província Bíé.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Exploradores

Apesar da presença portuguesa no litoral, até ao final do século XIX o interior de Angola era um mundo desconhecido.
Vendo os seus "direitos" ameaçados por outras potências europeias (sobretudo a Inglaterra), Portugal vê-se na necessidade de demonstrar conhecimento sobre esse território, no sentido de o poder reclamar para si.
Nesta altura é criada a Sociedade de Geografia de Lisboa, com o objectivo principal de fazer o reconhecimento do território em diferentes aspectos das ciências naturais e efectuar o mapeamento do interior do continente africano.
Nesta aventura destaca-se o feito de Roberto Ivens e de Hermenegildo Capelo que, de Abril de 1884 a Junho de 1885 atravessaram todo o continente africano, desde o Namibe (Angola) até Quelimane (Moçambique).

Ao longo de toda a viagem, Roberto Ivens escreve, desenha, faz croquis, levanta cartas; Hermenegildo Capelo recolhe espécimes de plantas, rochas e animais."

Outro nome em destaque é sem dúvida o de Serpa Pinto que, poucos anos antes atravessou as bacias do rio Congo e do Zambeze, em terras que agora são partes de Angola, Zâmbia, Zimbabwe e África do Sul.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Kuito - Lado Lunar

Fora da Avenida Central a cidade muda.
Balas, buracos, crateras...
O Kuito foi das cidades mais atingidas pela guerra civil e, aqui, os esforços de reconstrução não são tão evidentes.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Kuito

O Kuito é a capital da Província do Bié.
Apesar de ser capital de província, é uma cidade bastante pequena.
Uma simpática praça central, uma avenida principal, meia dúzia de edifícios públicos... e pouco mais.
Fazendo uma linha horizontal do litoral para o interior, o Kuito ainda nem está a meio de Angola.
Como será a metade que ainda falta?

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Estradas?

Fevereiro: época das chuvas no planalto central.
Algumas das estradas pelas quais tenho de passar transformam-se em autênticos lamaçais.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Lá em cima no Huambo

No início do século XX não havia nada a que se pudesse chamar de “cidade” no centro de Angola.
Como os ingleses andavam a montar a linha do caminho-de-ferro, endereçavam as suas cartas para “Pauling Town”.
Em 1912, o General Norton de Matos, para marcar bem o domínio português nessa região, decidiu criar aí a cidade do Huambo.
Em 1927, o então governador Vicente Ferreira mudou-lhe o nome para Nova Lisboa, onde pretendia instalar a nova capital de Angola (o que nunca veio a acontecer).

O Huambo foi também um dos principais palcos da guerra civil, em meados dos anos 90.
A cidade foi quase completamente arrasada.
No entanto, os esforços na sua reconstrução são evidentes e, para mim que apenas conheci o Huambo agora, dificilmente me apercebo das marcas da guerra.
"As ruas que já foram frentes de batalha são hoje cenário da reconstrução vertiginosa da cidade. Ainda há três anos, eram chagas urbanas abertas por balas."

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Um passado presente

Enquanto os tanques já não funcionam, há vestígios da guerra que continuam activos: as malditas minas.
Por toda a parte...
Nem pensar em ir fazer xixi na berma da estrada.

Um passado passado

No planalto central, é frequente passar em estradas ladeadas de carcaças de tanques e outras máquinas de guerra.
Estas felizmente já não servem para matar.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Funcionamento a carvão

Um elemento comum para quem anda nas estradas angolanas é a presença quase constante de uns sacos brancos pousados na berma da estrada. Cheios de alguma coisa e cobertos de palha.
A curiosidade demorou pouco a desfazer: são sacos de carvão.
Quando o acesso a electricidade (ou a gás) é tão escasso, tem de haver uma alternativa para se cozinhar.
Com a mesma intenção vêem-se também por toda a parte mulheres (e quase sempre mulheres) carregadas com os molhos de lenha à cabeça a circular na berma das estradas.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Os verdadeiros desterrados

Houve tempos em que uma das penas mais severas que se podia aplicar a alguém era a deportação para Angola. (eu acho que não cometi nenhum crime para tal).

Há alguns destes desterrados que ficaram para a história:
Já tinha ouvido falar do João Brandão: salteador e guerrilheiro "terror das beiras" que originou a música do "Lá vai o João Brandão. A tocar o violão. Casaca da moda na mão... " Pronto... ninguém conhece... eu calo-me.
Mas sobretudo do Zé do Telhado: o "robin dos bosques português", salteador que esteve preso juntamente com Camilo Castelo Branco na cadeia da relação do Porto.

Planalto Central

Todo o interior de Angola é um imenso planalto com cerca de 1800m de altitude.
De quando em vez, aparecem umas formações montanhosas com formas estranhas que dão animação à paisagem.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Portuguesisses

Não é só na calçada que Portugal se faz sentir.
A influência portuguesa ainda aparece numa área (para mim) inesperada: a comida.
Onde quer que se vá, pede-se um café e vem da Delta, um sumo e vem da Compal, uma água e vem Luso ou Caramulo (ainda me custa a imaginar que se enviem navios carregados com água desde Portugal).
A cerveja é Super Bock, Cristal ou Sagres (embora aqui as marcas angolanas estejam também muito implantadas com a Cuca, a Eka, ou a N'Gola).
O vinho é sempre português.
Há pregos no prato, finos, bitoques, rojões, dobrada, cozido, caldeirada e até carne de porco à alentejana.
Ah... Esquecia-me do pastel de nata.

Calçada

Já tenho encontrado muitos exemplos de caçada dita "portuguesa" com os desenhos a preto sobre o fundo branco.
Não sei se esta será uma das marcas da "portugalidade" (conceito muitas vezes balofo), mas já as tinha encontrado noutros lugares de presença portuguesa como em Macau ou no Brasil. E gostei.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Adobe

Para muita gente, Adobe é a marca do Acrobat ou do Photoshop.
Mas o adobe é um material de construção que tem por base palha seca e barro.
A construção em tijolo de adobe é a mais comum em Angola.
Apesar de ser aparentemente um material menos nobre, é bastante resistente e adequado ao clima: o interior das casas mantém-se relativamente fresco, suportandobem as altas temperaturas.
No litoral, mais árido, a cor é mais parda; Nas zonas mais húmidas, a terra é mais barrenta e a cor é mais avermelhada.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Baía Azul

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Rumo ao Futuro

Ao contrário do esperado, muitos dos angolanos que tenho conhecido são bastante fechados e pouco comunicativos. Às vezes parece que existe medo de falar.
Creio que isto não acontece só comigo. A tal ponto que existem anúncios na rádio a apelar a uma maior simpatia e solidariedade entre as pessoas.
30 anos de guerra não se apagam rapidamente.

Como diria um rapper que está aqui na moda (Yannick Afroman): mentalidade (eehhh), atitude (eehhh), comportamento tem de mudaaar.
A excepção... claro... são as crianças... sempre de uma alegria contagiante.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Caminho de Ferro de Benguela

O Caminho de Ferro de Benguela é uma linha de combóio mítica.
Com mais de 1300 km, atravessa Angola, ligando o Atlântico aos países interiores de África (Congo e Zâmbia).
A obra foi iniciada em 1903 (concessionada aos ingleses) e foi concluída em 1929.
Durante a guerra a linha foi quase completamente destruída.

A linha foi o principal factor do desenvolvimento de todo o centro de Angola.
É a razão da existência (ou da importância) de muitas das cidades que vou visitar: Cubal, Ganda, Cuma, Longonjo, Lépi, Caála, Huambo, Chinguar, Kuito, Catabola, Camacupa, … e por aí adiante. Daí chamarem a Benguela "Cidade mãe de Cidades".
A maioria destas cidades cresceu à volta da estação e nelas ainda é possível encontrar alguns vestígios abandonados da antiga vida: estação, oficinas, silos de cereais, depósitos de água, "polígonos" florestais e até locomotivas.
Hoje, as obras de reabilitação estão a cargo dos chineses e correm a uma velocidade surpreendente: A linha já vai de Benguela até ao Cubal, e prevê-se para breve a conclusão até ao Huambo (Março?) e até ao Kuito (Dezembro?).

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Benguela

Benguela é uma cidade bonita.
Ruas largas e organizadas, bairros estruturados, muitas praças e jardins bem arranjados e alguns edifícios interessantes (incluindo até uma igreja barroca: Nossa Senhora do Pópulo).
É também uma cidade com muita vida, com bastantes lojas e mercados.
E claro... o fundamental: é uma cidade com mar.
Dizem que Benguela é uma cidade bairrista, em que as suas gentes se empenham no seu desenvolvimento.
É também a sede do Caminho de Ferro de Benguela, que merecerá um post próprio brevemente.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Candongueiros

Alguns dos grandes responsáveis pelo perigo nas estradas de que falei são os candongueiros.
Os candongueiros são o mais próximo de transporte público que existe por aqui.
Um misto de táxi, autocarro, metro e não sei bem que mais.
São quase sempre Toyotas Hiace (leia-se mesmo IÁCE) azuis na metade de baixo e brancas na de cima.
Estão em toda a parte... às dezenas.
Uma carrinha tem aproximadamente 15 lugares mais o motorista e o cobrador.
Nas viagens fora as cidades, como os motoristas querem chegar o mais rapidamente possível (possivelmente para voltar no mesmo dia) transformam-se nuns tresloucados serial-killers.
Qualquer dia experimento...

O verdadeiro perigo

Antes de vir para Angola parece que toda a gente me queria assustar.
Era a malária, a febre amarela, a hepatite, o tétano, a raiva, o malburg, o ébola, a cólera e o diabo a sete.
Depois não se podia comer saladas, frutas frescas, mariscos, ovos, gelo e não sei o quê.
Ainda havia os assaltos e a violência e as armas da guerra e as minas abandonadas e o não andar sozinho e o não sair depois do anoitecer e isto e aquilo.

Mas realmente, o verdadeiro perigo que tenho sentido é o de andar na estrada.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

A Restinga do Lobito

Entro na província de Benguela.
Primeira paragem: a cidade do Lobito.
O Lobito é um porto importante, sobretudo por ser o término/início do Caminho de Ferro de Benguela.

A zona da cidade mais marcante é claramente a Restinga.
A Restinga é uma língua de areia enorme (mais de 5 quilómetros) que entra pelo mar dentro.
Tendo praticamente duas frentes de mar, é na Restinga que estão concentradas as casas e os edifícios mais "exclusivos" - alguns deles (creio eu) com elevado valor arquitectónico - link interessante aqui.
Como escasseiam (ou não existem) construções novas, mais uma vez tem-se a sensação de viagem no tempo.
Aqui com uma parte positiva: muitas das casas e das ruas estão já recuperadas. Fica aqui um alerta: pelo que soube, não existe ainda qualquer tipo de regulamento de protecção deste património. Existem já casos de edifícios marcantes que desapareceram (ex. Hotel Comodoro).
Será que este conjunto não terá valor suficiente para ser património mundial da UNESCO?

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Boa Entrada

A Boa Entrada era a "menina dos olhos" da região do Amboim.
Era a cidade modelo, sede da CADA (Companhia Angolana de Agricultura).
Tinha estação de combóio, cinema, piscina, campo de futebol, escolas reconhecidas e um dos melhores hospitais de Angola.
Como verdadeiro "modelo" do tempo fascista, a organização urbana reflectia a "organização" social imposta: no topo da colina o bairro com boas casas "portuguesas" para os quadros superiores, mais abaixo, um bairro "arranjadinho" para os "assimilados" e, mais longe, a sanzala, para os trabalhadores locais.
Hoje, com as fazendas improdutivas, tudo está vazio, deixado exactamente como foi contruído.

Gabela

A cidade da Gabela é a sede do município do Amboim.
Já se orgulhou de ter o melhor café do mundo.
Eu bem que procurei...

Abandono

Uma das coisas impressionantes na viagem para a Conda é a quantidade de explorações agrícolas abandonadas.
A parte visível são as paredes que ainda se aguentam contra a passagem do tempo.
A parte invisível, e talvez mais marcante, é a da própria terra: Apesar de incrivelmente fértil, é raro ver-se um campo a produzir.