sábado, 7 de fevereiro de 2009

Caminho de Ferro de Benguela

O Caminho de Ferro de Benguela é uma linha de combóio mítica.
Com mais de 1300 km, atravessa Angola, ligando o Atlântico aos países interiores de África (Congo e Zâmbia).
A obra foi iniciada em 1903 (concessionada aos ingleses) e foi concluída em 1929.
Durante a guerra a linha foi quase completamente destruída.

A linha foi o principal factor do desenvolvimento de todo o centro de Angola.
É a razão da existência (ou da importância) de muitas das cidades que vou visitar: Cubal, Ganda, Cuma, Longonjo, Lépi, Caála, Huambo, Chinguar, Kuito, Catabola, Camacupa, … e por aí adiante. Daí chamarem a Benguela "Cidade mãe de Cidades".
A maioria destas cidades cresceu à volta da estação e nelas ainda é possível encontrar alguns vestígios abandonados da antiga vida: estação, oficinas, silos de cereais, depósitos de água, "polígonos" florestais e até locomotivas.
Hoje, as obras de reabilitação estão a cargo dos chineses e correm a uma velocidade surpreendente: A linha já vai de Benguela até ao Cubal, e prevê-se para breve a conclusão até ao Huambo (Março?) e até ao Kuito (Dezembro?).

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Benguela

Benguela é uma cidade bonita.
Ruas largas e organizadas, bairros estruturados, muitas praças e jardins bem arranjados e alguns edifícios interessantes (incluindo até uma igreja barroca: Nossa Senhora do Pópulo).
É também uma cidade com muita vida, com bastantes lojas e mercados.
E claro... o fundamental: é uma cidade com mar.
Dizem que Benguela é uma cidade bairrista, em que as suas gentes se empenham no seu desenvolvimento.
É também a sede do Caminho de Ferro de Benguela, que merecerá um post próprio brevemente.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Candongueiros

Alguns dos grandes responsáveis pelo perigo nas estradas de que falei são os candongueiros.
Os candongueiros são o mais próximo de transporte público que existe por aqui.
Um misto de táxi, autocarro, metro e não sei bem que mais.
São quase sempre Toyotas Hiace (leia-se mesmo IÁCE) azuis na metade de baixo e brancas na de cima.
Estão em toda a parte... às dezenas.
Uma carrinha tem aproximadamente 15 lugares mais o motorista e o cobrador.
Nas viagens fora as cidades, como os motoristas querem chegar o mais rapidamente possível (possivelmente para voltar no mesmo dia) transformam-se nuns tresloucados serial-killers.
Qualquer dia experimento...

O verdadeiro perigo

Antes de vir para Angola parece que toda a gente me queria assustar.
Era a malária, a febre amarela, a hepatite, o tétano, a raiva, o malburg, o ébola, a cólera e o diabo a sete.
Depois não se podia comer saladas, frutas frescas, mariscos, ovos, gelo e não sei o quê.
Ainda havia os assaltos e a violência e as armas da guerra e as minas abandonadas e o não andar sozinho e o não sair depois do anoitecer e isto e aquilo.

Mas realmente, o verdadeiro perigo que tenho sentido é o de andar na estrada.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

A Restinga do Lobito

Entro na província de Benguela.
Primeira paragem: a cidade do Lobito.
O Lobito é um porto importante, sobretudo por ser o término/início do Caminho de Ferro de Benguela.

A zona da cidade mais marcante é claramente a Restinga.
A Restinga é uma língua de areia enorme (mais de 5 quilómetros) que entra pelo mar dentro.
Tendo praticamente duas frentes de mar, é na Restinga que estão concentradas as casas e os edifícios mais "exclusivos" - alguns deles (creio eu) com elevado valor arquitectónico - link interessante aqui.
Como escasseiam (ou não existem) construções novas, mais uma vez tem-se a sensação de viagem no tempo.
Aqui com uma parte positiva: muitas das casas e das ruas estão já recuperadas. Fica aqui um alerta: pelo que soube, não existe ainda qualquer tipo de regulamento de protecção deste património. Existem já casos de edifícios marcantes que desapareceram (ex. Hotel Comodoro).
Será que este conjunto não terá valor suficiente para ser património mundial da UNESCO?

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Boa Entrada

A Boa Entrada era a "menina dos olhos" da região do Amboim.
Era a cidade modelo, sede da CADA (Companhia Angolana de Agricultura).
Tinha estação de combóio, cinema, piscina, campo de futebol, escolas reconhecidas e um dos melhores hospitais de Angola.
Como verdadeiro "modelo" do tempo fascista, a organização urbana reflectia a "organização" social imposta: no topo da colina o bairro com boas casas "portuguesas" para os quadros superiores, mais abaixo, um bairro "arranjadinho" para os "assimilados" e, mais longe, a sanzala, para os trabalhadores locais.
Hoje, com as fazendas improdutivas, tudo está vazio, deixado exactamente como foi contruído.

Gabela

A cidade da Gabela é a sede do município do Amboim.
Já se orgulhou de ter o melhor café do mundo.
Eu bem que procurei...

Abandono

Uma das coisas impressionantes na viagem para a Conda é a quantidade de explorações agrícolas abandonadas.
A parte visível são as paredes que ainda se aguentam contra a passagem do tempo.
A parte invisível, e talvez mais marcante, é a da própria terra: Apesar de incrivelmente fértil, é raro ver-se um campo a produzir.

Águas Quentes

Uma das atracções do Cuanza Sul é a nascente de água quente da Conda.
Não sei que expectativas eu tinha, mas quando cheguei e vi um cano a deitar água para um tanque de cimento... confesso que fiquei um bocado desiludido.
Valeu sem dúvida pela viagem até lá...

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Quicombo

Quicombo, na foz do rio Cubal, teve um papel importante na evolução da História:
Quando Portugal foi governado pelos Filipes, os Holandeses aproveitaram-se da situação e ocuparam as cidades portuguesas na costa ocidental africana.
Os portugueses tiveram de fugir de Luanda e de outras cidades para o interior.
Foi a partir de Quicombo que, em 1648, 8 anos depois da "restauração", Salvador Correia conseguiu expulsar os Holandeses de Luanda.

Ah! Muito importante também: tem praia!

Rio Cubal

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Pontes

40 anos consecutivos de guerra só podem ter péssimas consequências.
Uma delas é o estado mínimo a que chegaram algumas das infra-estruturas.
No caso deste post refiro-me às pontes.

É que em muitas delas é preciso pensar duas vezes antes de passar.
Limitam-se a umas chapas metálicas em cima de uns pilares de uma ponte antiga.
A técnica é simples: velocidade mínima, suster a respiração e ... esperar que nada aconteça.

Quedas de água da Binga

Primeira deslocação ao interior e logo uma surpresa: Quedas de água da Binga, no Rio Queve.

Cuba

A relação de Angola com Cuba está ainda muito presente.
Ainda nestes dias inauguraram um monumento no Sumbe de homenagem aos cubanos que por cá andaram.
Durante anos Cuba apoiou militarmente Angola (e o MPLA) na luta contra a UNITA e contra a invasão Sul-Africana do regime do apartheid: a chamada "Operação Carlota".
O grande feito militar das tropas cubanas foi a batalha do Cuito Cuanavale, no sul, em 1988.

Hoje em dia a presença cubana faz-se de outra forma bem mais pacífica: Educação e Saúde.
Existem inúmeros médicos e professores cubanos a trabalhar em Angola.

Rios

Como eu já disse num post anterior, a paisagem do litoral repete-se na poeira da sua aridez.
A grande excepção são os rios e as suas margens.
Passa-se o Kwanza, o Longa, o Queve, o Cubal e os outros e a monotonia quebra-se: são verdadeiras explosões de vida e alegria.
Crianças a tomar banho, mulheres a lavar roupa, vozes a cantar e a falar alto, agricultura e verde, muito verde.